segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

500 anos do Funchal e 200 anos da Coroa no Brasil


(Na imagem a preto e branco podemos ver o mapa da viagem, retirada da excelente obra 1808, D.João VI e uma ilustração do Brasil de 1808, ano da chegada do monarca ao Brasil, depois da viagem tempestuosa)


No ano em que o Funchal assinala os 500 anos da sua elevação a cidade, dá-se uma feliz coincidência: a celebração dos 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil, fugida das invasões napoleónicas.

Não ligadas directamente entre si as duas efemérides acabam, no entanto de ter algum elo de ligação porque a enorme frota que levou uma grande comitiva de 1.200 pessoas em diversas naus desde Lisboa até ao Rio de Janeiro, no Brasil, passaria ao largo da Madeira. E também pelo caminho que abriu para que os britânicos entrassem pela ilha e passassem os ilhéus a viver sob as ordens de sua majestade… mas inglesa.

Quanto à viagem para o Brasil, escoltados pela marinha britânica, a corte e todos quanto a acompanhavam, sairam da então capital do reino no dia 29 de Novembro de 1807.

Segundo relata Laurentino Gomes no seu livro “1808”, onde procura relevar e clarificar o papel da família real portuguesa e o seu contributo para o Brasil, para a monarquia e para Portugal, no dia 8 de Dezembro, pouco mais de uma semana depois da partida, “ao se aproximar do arquipélago da Madeira, um denso nevoeiro cobriu tudo”. O autor, jornalista brasileiro que já trabalhou na “Veja” e “O Estado de São Paulo”, escreve as palavras do capitão James Walker para relevar o ambiente: “Estava tão carregado que não conseguíamos ver além da distância equivalente a três vezes o comprimento do navio”.

Mas, escreve o autor, o pior ainda estava por vir. “Ao anoitecer uma violenta tempestade começou a castigar os navios outra vez. Ventos fortíssimos vergastavam as velas aprodrecidas, enquanto marinheiros tentavam desesperadamente mantê-las presas aos mastros das embarcações”.

“O maior perigo, no entanto, estava lá fora, mergulhado na escuridão da noite e coberto pelo nevoeiro. É um ponto conhecido como «Oito pedras». Situado ao norte de Porto Santo, na ilha da Madeira, esse conjunto de rochedos parcialmente submerso costuma ser uma armadilha fatal para marinheiros menos experientes, responsável pelo naufrágio de inúmeros navios e embarcações. Para não correr esse risco, os comandantes da esquadra dcidiram parar e esperar que o tempo melhorasse. O resultado foi surpreendente: no dia seguinte, ao amanhecer, uma parte dos navios havia desaparecido. A esquadra tinha sido dispersada pela força dos ventos durante a noite sem que os marinheiros percebessem”.

Resultado a esquadra seguiu rumos diferentes, segundo escreve Laurentino Gomes. “Metade dos navios (…) navegou na direcção noroste. O restante da frota manteve o rumo sudoeste, em direcção ao ponto de encontro combinado [se se perdessem], no arquipélago de Cabo Verde”.

Chegada ao Brasil

Partindo de Portugal como Príncipe Regente, e coroado rei do Brasil e de Portugal em 1816 como D.João VI, depois da morte da sua mãe D. Maria I, dois anos antes, a esquadra entraria na baía de Guanabara na tarde de 7 de Março de 2008.

Contextualizando esta saída da monarquia de Portugal para a então colónia Brasil, podemos evidenciar que se deveu a uma retirada estratégica do País, ameaçado por Napoleão Bonaparte que coleccionava nações com as suas ocupações céleres.

Para poder governar o País à distância, o então príncipe foi aconselhado a tomar esta opção, deixando as tropas invasoras francesas incrédulas com o vazio de poder encontrado neste país do oeste europeu.

Com a ocupação francesa de Lisboa, o Rio de Janeiro tornava-se, agora, o mais importante centro naval e comercial do império, fruto da abertura do monarca, onde os ingleses foram privilegiados como “pagamento” pela ajuda na escolta da travessia. Segundo historiadores, com a Corte, o Brasil ganhou mais liberdade. Dom João VI fundou escolas e permitiu também que os brasileiros começassem a fabricar alguns dos artigos de que o país precisava.

Invasão à Madeira

No vazio de poder, os “aliados” ingleses, que se ofereceram para escoltar a coroa para o Brasil, aproveitaram para tomar conta de um local estratégico para as grandes viagens: a Madeira. Até porque, em Lisboa, já tinha um governador a dar ordens.

Segundo relata Rui Nepomuceno, no seu último livro “História da Madeira – Uma visão actual”, depois de contendas anteriores com os ingleses, a 24 de Dezembro de 1807, “ancorou no Funchal outra esquadra inglesa, composta por quator naus, quatro fragatas, uma bombeira e 15 navios de transporte, com dois regimentos de infantaria de 1.000 soldados cada um, e duas companhias de artilharia”, sob o comando do general Guilherme Beresford.

Relada o historiador que, depois de mandar invadir a ilha, o inglês impôs a rendição ao Governador Pedro Fagundes de Antas e Meneses, “que se viu compelido a assinar o instrumento de capitulação, por não ter meios suficientes para resistir à esmagadora superioridade das forças britânicas e também porque nesse título de rendição ficou vagamente convencionado que o arquipélago da Madeira voltaria a ser entregue à Coroa, quando a soberania de Portugal ficasse completamente emancipada e livre do jugo e da influência de França”.

Nesse documento “constava ainda a cláusula de que a Madeira e suas dependências eram entregues aos comandantes das forças de sua majestade britânica, para serem governadas e conservads por sua dita majestade, com os mesmos direitos, privilégios e jurisdição, com que até agora as gozou a Coroa de Portugal”.

As tropas inglesas só deixaram a Madeira a 3 de Outubro de 1814, “depois de complicadas e demoradas negociações, nas quais brilhou o talento e o patriotismo do nosso embaixador na Inglaterra Domingos António de Sousa Coutinho, mais tarde Conde e Marquês do Funchal.

D. João VI, e quase toda a corte, acabaria por regressar a Lisboa em 1821.

Paulo Camacho

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