sábado, 20 de junho de 2009

Miguel Cymbron: Turismo dos Açores reage bem à crise

O director regional do Turismo, Miguel Cymbron, diz em exclusivo a este jornal que em tempo de crise global, cresce, no exterior, o interesse dos turistas pelas nossas ilhas.

*Dados do Serviço Regional de Estatística revelam que nos primeiros meses do ano, os Açores, foram a região do País com maior crescimento no turismo. Esta tendência pode vir a ser contrariada pelos efeitos da crise económica internacional?*
Efectivamente, os Açores foram uma das regiões do País que demonstrou maior crescimento no número de dormidas durante os primeiros meses do ano. Já os números de Março - se bem que condicionados pelo facto da Páscoa de 2008 ter sido nesse mês - demonstram que os Açores também perderam dormidas, apesar de perderem menos do que a generalidade das regiões nacionais. Analisando o acumulado dos três primeiros meses, os Açores são a Região que melhor tem reagido aos efeitos da crise. O Governo Regional sempre disse que os efeitos da crise financeira nos nossos principais mercados emissores acabariam por se reflectir nos números de dormidas. O que estamos a fazer, é trabalhar para minorar esses mesmos efeitos. Ainda este mês foi lançada uma nova campanha promocional no mercado nacional, a par de outras iniciativas que estão em preparação, uma vez que acreditamos que esta situação poderá ser invertida ao longo do ano.

O facto de não haver voos low cost para os Açores contribui para que menos pessoas visitem o Arquipélago?
A partir do Inverno passado os Açores passaram a ter uma low cost em operação - Air Berlin. Só que a Air Berlin é o que tecnicamente se chama uma companhia híbrida, uma vez que também trabalha com os tour operadores. Deste modo, poder-se-á dizer que está no “melhor dos dois mundos”, tirando partido da sua grande notoriedade e das suas políticas de pricing para captação do cliente directo e aproveitando a sua dimensão para convencer mais operadores a programarem o destino Açores. No entanto, esse argumento tem sido uma falsa questão, uma vez que a generalidade dos pacotes disponíveis nos mercados apresentam relações qualidade/ preço muito competitivas para quem nos quer visitar.


Muitos empresários e cidadãos queixam-se do preço exorbitante das tarifas aéreas para a Região. É este o calcanhar de Aquiles do turismo açoriano?
Antes de mais, julgo estar a referir-se às tarifas praticadas no mercado nacional. Essa classificação de exorbitante não é correcta. A situação passa pelo facto da estratégia desenvolvida neste mercado estar alicerçada nos tour operadores. Neste contexto, a Região tem vindo a apresentar preços muito competitivos ao nível dos programas disponíveis para quem nos visita. Em termos de vendas directas, as recentes tarifas promocionais disponibilizadas pela transportadora aérea regional também são um passo no sentido de transformar, cada vez mais, os Açores, num destino acessível, pelo que não é correcto referir um suposto “calcanhar de Aquiles” no nosso turismo. O que aconteceu é que os Açores ao longo da última década conheceram taxas de crescimento verdadeiramente excepcionais e que não se podiam manter acima dos dois dígitos de forma permanente. O que a actual crise tem demonstrado é que os Açores têm conseguido resistir às dificuldades levantadas pela difícil conjuntura internacional.

Tem-se notado um grande crescimento do turismo na ilha de S. Miguel. É expectável que as ilhas de menor dimensão, nomeadamente as ilhas do Fundo do Coesão, possam vir a ter um maior desenvolvimento do turismo?
As ilhas da Coesão estão já a assistir a um substancial leque de investimentos que têm como fim último um maior desenvolvimento do sector do turismo. É isso que acontece, por exemplo, com a aposta muito significativa que o Governo dos Açores tem feito ao nível do transporte marítimo de passageiros inter-ilhas, com a renovação da frota da Sata Air Açores, com a construção de núcleos de recreio náutico em quase todas as ilhas do Arquipélago, entre outros investimentos. Além disso, convém recordar também a construção dos hotéis da Graciosa e das Flores. São investimentos que, seguramente, vão permitir um maior desenvolvimento do Turismo nessas ilhas.

As potencialidades turísticas da Região são ainda insuficientemente divulgadas na internet?
A internet tem sido uma ferramenta muito útil na divulgação dos Açores. Neste sentido, poderemos identificar dois principais vectores: a venda e a informação. Ao nível da venda, os Açores já se encontram presentes num conjunto de sites internacionais que são referência no sector. Em relação à informação, a Região Açores, em parceria com a ATA, pretende revolucionar a sua promoção on-line com a produção de um novo site que estará no topo da inovação.

Que nichos de mercado importa preservar e desenvolver na captação de turistas para os Açores?
Os Açores estão actualmente na fase de implementação de um novo plano estratégico e de marketing para o nosso turismo. Um plano que aposta na Natureza e no Ambiente, mas de uma perspectiva activa: ou seja, estamos a promover experiências de contacto com a Natureza, como são os casos da observação de cetáceos, mergulho, pedestrianismo, vulcanologia, cicloturismo, etc.

Que passos têm sido dados para o incremento do turismo de Natureza?
Tal como no caso da formação, também aqui o Governo tem um papel de parceiro dos nossos empresários. A nossa Região possui um regime de incentivos muito interessante e que tem sido elogiado. O incremento do turismo de natureza faz-se com a disponibilização de mais serviços, para isso as empresas que queiram apostar nestas áreas devem aproveitar todas as potencialidades dos regimes de incentivos existentes. A classificação dos Açores, pela National Geographic Traveler, como as “2ª melhores ilhas do mundo para o turismo sustentado” é o melhor exemplo que poderemos apresentar para o trabalho que tem sido desenvolvido.

Apostar sempre na formação

É ou não necessário apostar mais na formação de quem trabalho no sector turístico nos Açores?
Não compete ao Governo dos Açores classificar a qualidade do atendimento nas áreas relacionadas com o turismo. Ao Executivo compete criar os mecanismos necessários para melhorar, cada vez mais, a qualidade da nossa oferta. É isso que tem sido feito com o apoio às áreas da formação profissional Tal como em outros aspectos do nosso Turismo, esta é uma área que tem vindo a conhecer uma melhoria gradual e que continuará a ser uma aposta do Governo, quer através das diferentes escolas de formação, quer pela via dos apoios que tem disponibilizado aos empresários do sector.


Em termos de mercados, o turismo nórdico traz poucas mais-valias para a Região?
A aposta no turismo nórdico não terminou e, como se pode ver pelas estatísticas, os visitantes dessa zona da Europa continuam a ter um peso significativo no número de dormidas. O que o Governo dos Açores pretende é diversificar, igualmente, os mercados emissores. Este trabalho está a ser feito através de uma maior penetração nos mercados tradicionais (nacional, alemão, inglês, americano e canadiano) e da procura de novos mercados, tais como o italiano, francês, holandês, entre outros.

Perfil

Miguel de Oliveira Rodrigues Cymbron nasceu a 13 de Setembro de 1970. A sua vida académica e profissional está intimamente ligada à indústria do turismo. Das suas habilitações académicas, destaque para o curso de graduação em Direcção Hoteleira, leccionado pela Escola de Formação Turística e Hoteleira. Miguel Cymbron possui também a licenciatura em Direcção e Gestão de Operadores Turísticos – Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril. Do seu currículo profissional saliente-se as funções de director comercial do Porto Palácio Congress Hotel & SPA e das Pousadas de Portugal. Como director de vendas e marketing,k trabalhou na Blandy Travel/Eurocongressos e na Bensaúde Turismo-Hotéis. Exerceu também as funções de chefe de balcão da JFM Tours - Agência de Viagens e Turismo. Actualmente desempenha as funções de Director Regional de Turismo.

in Expresso das nove (Tibério Cabral)

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