segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Luís Filipe Malheiro: O povo não é burro

(...)

O porto do Funchal voltou a ser palco estes dias de nova (e esperada, confesso) polémica. Eu até admito que possam existir questões passíveis de negociação, mas acho intolerável que a administração portuária regional, seja a que pretexto for, se envolva numa “guerra” que não é, nem pode ser, nunca, a sua.
Obviamente que o povo não é burro e percebe, no essencial, muito do que está subjacente a esta polémica (?). O navio da “Armas” reintroduziu um anterior conceito das ligações marítimas de passageiros entre a Madeira e o Continente, que se perdeu, já que as pessoas eram obrigadas a usar o avião.
O problema é que estas viagens, para além do preço convidativo, permitem que milhares de madeirenses, que não gostam de andar de avião, e pagam balúrdios para o fazerem, possam deslocar-se ao continente e depois de estarem em Portimão escolherem o seu destino final, caso queiram acompanhados da sua viatura, poupando centenas de euros com despesas de aluguer de carro no Continente.
O que está subjacente a tudo isto, desconfio eu, prende-se com uma espécie de guerra surda – que ninguém sabe bem onde começa, quem anda a incentivá-la, quem a manipula e com que intenções – resultante do progressivo e significativo aumento da carga transportada num navio com as características do que é usado pelo operador espanhol, na medida em que esse aumento significa uma redução da carga transportada por outros operadores a partir de Lisboa ou de Leixões.
Quando há dias um empresário regional reconheceu que pode vender laranja algarvia por 1/3 do preço que custa a outra, por exemplo a espanhola ou a de outras regiões nacionais, embarcada em Lisboa ou no norte, que mais podemos dizer? Quanto pagam a menos os madeirenses – outro exemplo – considerando os custos com o tarifário e outros encargos com essa operação, entre transportar no navio da “Armas” um carro adquirido no continente e o transporte tradicional, feito a partir de Lisboa ou Leixões? E os custos com as operações portuárias que neste caso dispensáveis? Afinal ficam ou não os madeirenses a ganhar? Têm ou não os madeirenses o direito a pagar menos? Num quadro destes, onde pouco se sabe quanto ao essencial desta “guerra”, não acha a administração portuária que, mais do que uma evidente falta de sensibilidade política em lidar com questões mais polémicas, deveria manter-se fora de uma confusão que tem por objectivo final – e assumo-o – prejudicar o operador espanhol e garantir a manutenção de certos privilégios? E, já agora, o que se passará com o transporte de mercadorias para o Porto Santo? E sempre é verdade que os exportadores de banana estão a ponderar a possibilidade de alterarem os procedimentos de escoamento do seu produto nomeadamente adquirindo meios automóveis dotados de refrigeração, dispensando, assim custos com operações portuárias de carga e descarga? Ponham tudo a limpo, sob pena dos Madeirenses começarem a se irritar com o que por aí vai…

Luís Filipe Madeira
http://ultraperiferias.blogspot.com

Sem comentários: