domingo, 8 de março de 2009

Madeira tropeça nos dois primeiros meses do ano

São os primeiros grandes sinais da crise. A julgar pelo movimento no Aeroporto da Madeira, que caiu 9,2%, os hoteleiros madeirenses perderam cerca de 6 milhões de euros de receita em apenas dois meses. A conclusão resulta do facto de terem desembarcado menos 14.910 passageiros, com a particularidade de esta queda traduzir o facto de a Madeira estar a perder turistas em todos os mercados, menos o português.

A análise dos indicadores dos últimos anos do movimento do aeroporto permite concluir, também, que este início do ano é o pior dos últimos cinco. Para melhor se avaliar do que estamos a falar, importa destacar que em apenas dois meses a Madeira perdeu 11 mil turistas britânicos, três mil alemães, dois mil dinamarqueses, outros tantos irlandeses, mil e quinhentos suecos e mais de mil espanhóis.

Menos 22.617 estrangeiros

Um olhar mais cuidado aos números permite concluir, por exemplo, que, retirando da análise os passageiros portugueses, a Madeira terá perdido 22.617 passageiros vindos do estrangeiro, descida que se reflecte não só nas dormidas e gastos nos hotéis, mas também em todos os sectores associados, com destaque para a restauração e os transportes (excursões, rent-a-cars, etc.).

Para que não fiquem dúvidas, apenas de Lisboa vieram mais turistas, pois dos restantes aeroportos, as quebras chegaram a atingir metade do tráfego e nos mais significativos mercados uma descida de um terço.

Nota muito curiosa para a descida do movimento de e para o aeroporto de Sá Carneiro, no Porto, bem como para a contínua queda do número de passageiros que viajam entre as duas ilhas do arquipélago.

Sabendo-se, pelo estudo da evolução dos indicadores de tráfego, bem como do registo do número de turistas, que cerca de 80% dos passageiros desembarcados no Aeroporto da Madeira são hóspedes de hotéis e outras unidades, fácil é concluir que os prejuízos para o turismo madeirense são maiores do que para a ANAM, a empresa que gere os aeroportos da Região.

Dormidas caíram mais de 16%

É com base neste indicador que é seguro desde já garantir que os hoteleiros perderam mais de 15 mil hóspedes, pois a quebra dos desembarques (9,4%) só não foi mais acentuada porque o número de portugueses que viajaram para a Madeira subiu consideravelmente (13%) - mais 7.707 passageiros - com a particularidade de os voos entre Lisboa e o Funchal terem visto o número de passageiros subir 22,9%, quando no sentido inverso essa subida quedou-se pelos 14,3%.

A análise de todos os indicadores recolhidos permite concluir que o número de hóspedes caiu em dois meses 15%, situando-se no valor mais baixo nos últimos 5 a 7 anos, com a crise a ter efeitos ainda mais duros no número de dormidas, pois em Janeiro e Fevereiro os hotéis da Madeira terão perdido mais de 100 mil dormidas - isto se comparado com igual período do ano passado -, o que significa uma quebra de 16%.

Menos receitas hoteleiras

Sabendo-se, também, que a receita gerada nos meses de Janeiro e Fevereiro representa 12% dos proveitos totais do turismo, fácil é concluir que os hoteleiros madeirenses terão facturado menos 6 milhões de euros do que em igual período do ano passado - 39,7 milhões de euros -, não se contabilizando nesta altura uma reconhecida desvalorização do revpar, já que os hoteleiros viram-se obrigados a baixar o preço que cobram aos clientes.

Embora os responsáveis governativos tenham vindo a destacar a circunstância de durante as festas de Carnaval as taxas de ocupação terem superado os 74%, a verdade é que com a quebra verificada, a taxa de ocupação acumulada no final dos dois primeiros meses do ano deverá ser inferior aos 43%, a mais baixa da última década.

Para piorar a situação da hotelaria madeirense, refira-se que o sector está mais dependente do hóspede português, que garante uma estada média de 3 noites, metade da que é assegurada por um turista britânico, alemão ou nórdico, o que significa que os prejuízos nas receitas deverão ser substancialmente superiores aos que prevemos neste trabalho: 16%.

Menos britânicos e espanhóis

Resta acrescentar que apesar de as entidades e alguns hoteleiros revelarem optimismo a partir da análise dos contratos já feitos, o comportamento dos mercados do Reino Unido - influenciado por uma desvalorização da libra (25%) -, alemão e nórdico não deixa antever boas novidades, com o Banco de Espanha a anunciar que os gastos e as viagens turísticas de espanhóis ao estrangeiro deverão cair este ano, depois de já terem registado um decréscimo de 50% em 2008, comparativamente ao ano anterior, o que naturalmente se vai reflectir na Madeira, também.

Porto Santo perdeu 23 passageiros por cada dia e 1.374 no total

O número poderá significar pouco para o leitor, só que para os comerciantes e hoteleiros do Porto Santo é um indicador muito expressivo. Nos primeiros 59 dias do ano desembarcaram no aeroporto local menos 23 passageiros por dia, do que resultou no desembarque de menos 1.374 passageiros.

Uma análise mais detalhada aos indicadores da fronteira aérea permite concluir que a descida de 17,3% no número de passageiros é justificada na queda brutal verificada no tráfego internacional. Porque este ano há registo de 460 passageiros, quando em igual período do ano passado tinham passado pelo Aeroporto do Porto Santo, desembarcados ou para embarcar num voo internacional, 1.966 passageiros. Ou seja, houve menos 76,6% de passageiros de voos internacionais.

Fácil é concluir que em 2008 desembarcaram, vindos do estrangeiro, nos primeiros dois meses do ano 983 passageiros - uma média de 16/17 por dia ou 109 por semana - este ano vieram apenas 230 passageiros, o que representa 3 a 4 por dia e menos de 26 por semana, quebra que naturalmente teve reflexos terríveis nas taxas de ocupação dos hotéis e nas receitas geradas.

Também os voos domésticos registaram uma queda ao nível do número de passageiros. neste caso de apenas 3,6%. Uma descida justificada, sobretudo, na procura, já que a oferta de voos manteve-se, havendo a registar a realização de menos um voo.

Ano mais fraco desde 2006

Uma nota final para o facto da Madeira ter perdido nos dois primeiros meses do ano uma quebra de 4.656 passageiros-turistas alemãs em relação ao melhor registo dos últimos anos (2007), bem como menos 1.182 dinamarqueses e 1983 finlandeses do que em 2006. Em termos absolutos, o movimento destes primeiros 59 dias é 4,5% inferior ao registado em igual período de 2006 e 3,5% em relação ao ano de 2007.

Fonte: Diário de Notícias - Madeira (Miguel Torres Cunha)

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